28 de abril de 2014

#SomosTodosMacacos



Quando eu era criança, me lembro bem da minha mãe dizer que eu tinha sangue negro. Sempre que ela afirmava isso, era porque eu estava sambando, para nenhuma mulata botar defeito. E lembro também que essa frase me deixava muito feliz. Ser comparada as negras que sambavam na Mangueira (minha escola de samba do coração) era um elogio incrível. Ainda é, na verdade, uma vez que continuo tendo samba no pé e adoro quando reconhecem isso dizendo que sambo como uma mulata. 
Outro ponto que remete bem ao meu sangue negro era a vontade incontrolável que tinha de fazer permanente. Sempre admirei cabelos enrolados e crespos e não me conformava de ter nascido com um exemplar liso. Nunca me deixaram fazer a tal da permanente porque diziam estragar muito os fios. Permaneci frustrada e até hoje carrego comigo uma vontade imensa de ter cabelos enormes, para colocar uma flor do lado e deixar transparecer uma personalidade incrível por trás dos cachos. Não os tenho, já me conformei. Só não me conformo com mulheres que nasceram com os cabelos que eu queria ter e tem coragem de alisá-los. Eu as entendo, mas não me conformo.
A religião também me faz ter certeza de que meu sangue é negro. Sou espírita, trabalho em centro kardecista, mas me sinto em casa e extremamente feliz na Umbanda. Quando começa a música, uma energia me invade e me faz ter certeza que aquele é o meu mundo. De alguma maneira me sinto conectada com uma espiritualidade essencial, minha, do passado e do presente, que me encanta e tantas vezes me faz chorar, como um filho que volta pra casa.
Por tudo isso, e por muito mais que poderia ficar horas comentando, fico triste e tocada quando vejo reações racistas e disseminação de um preconceito tão arcaico quanto a escravidão. Até porque, #SomosTodosMacacos também poderia se transformar em #SomosTodosNegros. Nós brasileiros viemos de uma miscigenação tremenda e que bom. Somos um povo rico de cultura, etnias, linguagens, cor de pele, tipo de cabelo e de corpo. Somos a diversidade, somos abençoados. 
Ainda é difícil de acreditar que a cor da pele de alguém possa fazer tanta diferença para algumas pessoas, enquanto só o que deveria importar é o caráter que se tem. Sorte a dos macacos que nasceram sem o preconceito e podem socializar sem restrições.

Nenhum comentário: