Assisti
na noite do dia 30 de novembro o pré-lançamento do livro “A Construção do Mito
Mário Palmério”, do autor André Azevedo da Fonseca. Embora em muitas aulas que
tivemos com o autor, quando este ainda as ministrava na Universidade de
Uberaba, no curso de Jornalismo, várias abordagens sobre construção mítica
fossem analisadas, vê-las aplicadas de forma tão objetiva, alcançando de fato
seu propósito de sucesso por um personagem tão inserido na cultura uberabense
foi fantástico. Isso porque ainda não conheço nada que fale mais ou ensine mais
do que o exemplo.
Para
mim, que sou jornalista, é impressionante ver o poder que a mídia exerce sobre
o imaginário social. Esse poder tem a capacidade sim de criar um mito, quando
contribui para que os leitores acreditem na fantasia, nas mentiras e nas
encenações feitas pelos personagens que tem prestígio entre os meios de
comunicação. E aqueles que nem tem tanto prestígio assim podem adquiri-lo se
souberem como jogar esse jogo de aparências que pode manipular toda uma população.
André
mostrou muito bem isso ao contar a história de ascensão na vida e na política
de Mário Palmério. Um jovem, com pouco mais de 20 anos, que teve a perspicácia
de entender como funcionavam as representações sociais no jornal Lavoura e
Comércio, o único de Uberaba na década de 40. E mais, que soube como usá-las a
seu favor com maestria. Daí para o sucesso profissional foi um pulo. O pulo do
gato. Certeiro.
Porém,
sou uma dessas pessoas ainda apegada a alguns conceitos que tenho sobre ética.
Portanto, não fico deslumbrada com a possibilidade que um espertinho tem de se
sobressair sobre os outros porque entende do que chamamos atualmente de
marketing pessoal. Mário Palmério fez marketing pessoal. Todos os políticos
fazem marketing pessoal. Alguns conseguem se aproximar do que são realmente.
Outros são capazes de alienar boa parte da população. Diria até que foi o que
aconteceu atualmente nas eleições da cidade, mas não pretendo entrar no mérito
da questão.
Existe
um problema moral em usar algumas técnicas para conseguir dominar o outro,
fazer com que ele te admire e consequentemente seja seu subalterno. Utilizar-se
da fragilidade de alguém, da falta de conhecimento, da pureza cultural que não
compreende o subliminar é o mesmo que impedir o acesso a verdade e fazer com
que confundam o teatro com a vida real. E essa grande proporção de mentira que
existe nesse sistema que aliena, violenta mesmo que de maneira elegante,
diferencia as pessoas, é o que influencia diretamente na doença da sociedade
que estamos vivendo.
Estamos
doentes como comunidade porque somos fantoches e aprendemos a, de uma maneira
ou de outra, nos conformar com isso e até mesmo acatar essa condição como se
fosse imutável, necessária ou normal. E embora tenha percebido que os meios de comunicação
da cidade evoluíram um pouco, é triste ainda conseguir compará-los com o
jornalismo que era feito em 1940. Um jornalismo baseado na bajulação dos
poderosos, nos elogios descabidos nas colunas sociais, na representação de uma
sociedade uberabense que só existiu (e ainda existe) para um seleto grupo de
pessoas.
Por
isso indico para todos aqueles que pretendem entender muito mais sobre como são
criados os mitos, o livro de André Azevedo da Fonseca. E acredito ainda que
todos, de fato, deveriam entender. Porque é só a partir de uma consciência
crítica é que podemos praticar a nossa cidadania em toda a sua extensão. Além
disso, o autor tem uma maneira singular de comunicar com clareza para que a
informação se torne acessível para todos. E no mais, é um dos poucos autores
que conheço que tem a capacidade de falar algo, dizendo o seu oposto.
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